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Seis mil ocupam Brasília contra o golpe de Estado

Municipais do Ceará, Minas Gerais e Paraná engrossaram as manifestações em defesa da democracia

Publicado: 30 Agosto, 2016 - 10h43

Escrito por: Confetam

Marcos Adegas
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Protestos começaram pela manhã e seguiram até a noite

Cerca de seis mil pessoas vindas de várias cidades de todo o Brasil participaram das manifestações em Brasília contra o impeachment ilegal do mandato da presidente Dilma Rousseff. Caravanas de dirigentes sindicais dos servidores municipais dos estados do Ceará, Minas Gerais e Paraná representaram a categoria nos atos em defesa da democracia, que começaram no início da manhã desta segunda-feira (28), e prosseguiram até a noite na Esplanada dos Ministérios.

O depoimento da presidente, que durou 14 horas, foi acompanhado do lado de fora pelos militantes. Gente como Flávia Rodrigues, do Coletivo Rosas pela Democracia, que chegou ao Ministério da Justiça, local da concentração dos protestos, às 6h30 para receber Dilma. “Viemos lhe entregar rosas, que representam a delicadeza das pétalas e a força dos espinhos”, explicou. “Sozinhas, somos apenas pétalas. Mas juntas somos rosas. Somos delicadas e fortes, como Dilma”, afirmou.

Policia barra parlamentar

Mais nem todo foram flores. Um forte esquema de segurança foi montado pela Polícia Militar do Distrito Federal para evitar o acesso dos manifestantes ao Congresso Nacional. Um grande barreira, formada por grades de ferro, impediu a passagem dos manifestantes e até mesmo o acesso de deputados à sede do Parlamento.

Foi o caso do deputado federal José Geraldo (PT/PA). Apesar de apresentar o documento de identificação parlamentar, ele foi impedido de passar. “Mas eu vou trabalhar”, tentou argumentar. “Esses policiais são uns despreparados. Aliás, são preparados para o golpe. Golpistas!”, gritou. Depois da tensão, a passagem do parlamentar, que se dirigia à Câmara dos Deputados, foi liberada.

Quero meu voto de volta

Quem também protestou contra a restrição do direto de ir e vir foi Fátima de Deus, do Núcleo de Defesa da Democracia. Fundadora do PT, ela se recusou a passar pela barreira e, em protesto, sentou-se no chão, ao lado dos policiais, sob o sol escaldante, e lá permaneceu até o fim da manhã.

“Sou do Distrito Federal mesmo e estou aqui para protestar contra a bancada dos senadores do DF que votou a favor do impeachment. Não fiz campanha e votei no Cristóvão Buarque para ele apoiar um golpe de Estado. Eu quero o meu voto de volta”, exigiu.

Governo golpista não terá trégua

Acompanhada do ex-presidente Lula e comitiva, Dilma chegou ao Senado por volta das 9 horas, de onde só saiu depois da meia noite. As mulheres foram maioria nos atos de solidariedade a presidente. Entre elas, estava a professora Vilani Oliveira, que se deslocou do município de Maracanaú, no Ceará, para defender a democracia e protestar contra a tentativa do governo golpista de Michel Temer de aprovar no Congresso Nacional mais de 50 projetos que prejudicam o povo brasileiro e a Nação.

“Nossa percepção é de que o golpe é contra os trabalhadores. Somos diretamente impactados pela pauta conservadora do Congresso, pelo PL 257, pela PEC 241, pelo PL 4567, que significarão o desmantelamento do SUS e do Plano Nacional de Educação. É o caos se instalando”, avaliou a presidente da Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal (Confetam/CUT).

Para ela, o próximo alvo dos golpistas será o movimento sindical. “Temos de reagir, de encontrar forças, de ter capacidade de resistência para defender os trabalhadores, pois o golpe não termina hoje. O foco agora é a destruição das organizações que se insurgirem contra o desmonte de direitos. Acreditamos na resistência e avisamos: esse governo não terá um só dia de trégua. Lutar e resistir são as palavras de ordem”, enfatizou Vilani Oliveira.

Greve geral

O secretário nacional adjunto de Comunicação da CUT, Greg Ferro, destaca que a resistência dos trabalhadores ao golpe contra os direitos e a democracia se materializará numa greve geral. Para isso, será preciso construir a unidade entre as forças de esquerda. “Temos uma grande paralisação agendada para o dia 22 (de setembro), que será o ‘esquenta’. Por bem ou por mal, a greve geral vai sair”, garante.

Para a secretária nacional de Relações do Trabalho da CUT, Graça Costa, o governo golpista de Michel Temer só tem aumentado a crise, pois o presidente interino não teria moral, nem capacidade, nem credibilidade para tirar o país da atual situação econômica. “Mais de 70% da população não concorda com a permanência de dele na Presidência”, disse.

Graça Costa definiu o impeachment sem crime de responsabilidade como uma “aberração da política” e convocou os trabalhadores brasileiros a assumirem a mesma postura da presidente afastada ilegalmente.  “Dilma é guerreira e temos de ser guerreiros como ela até o fim”, convocou.

Em defesa da saúde e da educação

Os atos em defesa da democracia em Brasília seguiram pela tarde. Por volta das 17 horas, os militantes saíram em passeata do acampamento montado no estacionamento do ginásio Nilson Nelson em direção ao Senado, onde ficaram por toda a noite. No caminho, enfrentaram novas barreiras policiais e foram submetidos à revista.

Durante o percurso, o petroleiro Abílio Valério Tozini, que veio do Rio de Janeiro participar da passeata, fez questão de ajudar a carregar uma enorme e pesada bandeira onde se lia “Fora Temer Nenhum Direito a Menos”.

Questionado sobre o que o levou até Brasília, ele afirmou estar defendendo a Petrobrás, o Fundo do Pré-Sal, a saúde, a educação. “Estou aqui para defender que a Petrobrás continue sendo a operadora única do pré-sal e que 75% do Fundo seja destinados à educação e os outros 25% à saúde. Se houver o impeachment, não haverá mais nada disso porque a Petrorás será entregue às multinacionais”, argumentou.

Semelhanças com 1964

Petroleira aposentada, os 74 anos de dona Davina Valentina da Silva não a impediram de também ir à rua gritar contra o golpe. Vestida no tradicional blusão laranja da categoria, segurando um cartaz escrito “Globo Golpista” e apoiando o peso da idade e da saúde debilitada numa muleta, ela percorreu a pé toda a passeata. “Foram muitos golpes vividos e eu não poderia deixar mais este passar em branco”, afirmou.

No golpe de 1964, dona Davina tinha apenas 22 anos, mas lembra bem das semelhantes entre a ditadura militar e o golpe parlamentar em plena democracia, 52 anos depois. “Naquela época, eles diziam combater os comunistas. Hoje dizem combater a corrupção. Mas como pode, se os que julgam uma presidente inocente e séria como Dilma são os maiores corruptos? Este golpe quase me mata, filhinha. Foi punk!”, resumiu.