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Jogos da Copa trarão mensagens contra o racismo

Seleções levantarão faixas durante as quartas de final; cidades-sede contam com central telefônica para receber denúncias

Publicado: 16 Maio, 2014 - 00h00

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Uma Copa sem racismo. Esse é o objetivo do governo federal para o Mundial com sede no Brasil.
Secretarias e governos estaduais têm aderido a campanhas para combater esse crime e conscientizar a população quanto ao respeito às diferenças, aproveitando a chegada da Copa do Mundo 2014 e toda a diversidade cultural, racial e religiosa dos turistas e torcedores.
De acordo com a Fifa, durante as quartas de final da Copa do Mundo, as duas seleções envolvidas em cada partida levantarão faixas com mensagens contra o racismo.
Em fevereiro, a presidenta Dilma Rousseff, em visita ao Vaticano, pediu ao Papa Francisco uma mensagem de paz e contra o preconceito para esta Copa. “Pedi uma mensagem dele sobre esse posicionamento da Copa do Mundo no Brasil, a Copa das Copas. Pedi posicionamento quanto à questão da paz e contra o preconceito, especificamente contra o racismo”, afirmou a presidenta.
Para Dilma, o futebol tem o poder de ser uma ação afirmativa na luta contra o preconceito e o racismo, além de disseminar os valores da paz, do entendimento entre os homens e entre as nações.
“Um País tão multicultural, onde todas as raças do mundo são encontradas, abre uma possibilidade para uma ação contra o racismo e a discriminação”, destacou. "Vamos fazer da Copa no Brasil uma grande bandeira mundial da luta contra o preconceito racial", acrescentou a presidenta.
Como uma das iniciativas para conscientizar a população, o Ministério do Esporte vai relançar, em edição bilíngue, o livro "O Negro no Futebol Brasileiro", publicado originalmente em 1947 pelo jornalista Mário Filho e entronizado como um estudo clássico do esporte no País. Será um reconhecimento da contribuição do negro à formação social brasileira e exaltação à mestiçagem que nos distingue como nação.
Campanha
Copa sem Racismo, esse é o tema da campanha do governo federal lançada no dia 7 de maio. O governo preparou diversas ações publicitárias para conscientizar a sociedade de que racismo é crime e intolerável. Elas serão vinculadas em sites de notícias e portais dos Ministérios e órgãos públicos. A campanha também traz um movimento nas redes sociais com a hashtag #copasemracismo e vídeos que estão sendo exibidos nos canais abertos de televisões. O objetivo é fazer da Copa no Mundo no Brasil um símbolo mundial contra o racismo.
Racismo é crime
Há 25 anos, o racismo foi definido na Constituição Federal, pela Lei 7.716/89, como um crime inafiançável e imprescritível no País.
Segundo a lei, não pode ter a punição paga com fiança e não tem tempo de validade – e, ainda segundo a Constituição, todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade.
Ou seja, ser impedido de exercer os seus direitos por conta de sua cor, religião, opção sexual, entre outros, se caracteriza como crime e precisa ser denunciado, e o primeiro passo é procurar a delegacia mais próxima e abrir um boletim de ocorrência. Algumas capitais também possuem telefones específicos para isso.
Denúncias por telefone
Em São Paulo, por exemplo, onde ocorrerá a abertura da Copa do Mundo, vítimas de racismo podem ligar para o SOS Racismo, no telefone 0800-77-33-886.
Já no Rio de Janeiro a denúncia pode ser feita através do email [email protected] ou pelo telefone 21 2334-5587.
No Distrito Federal, foi lançado no ano passado o Disque Racismo, feito pelo número 154 opção 7.
Em Pernambuco, há uma central de denúncias com o número 0800 281 9455. Em Porto Alegre, também cidade-sede do Mundial conta com o 0800-5412333 para receber denúncias do crime.
Casos de racismo no esporte
Um dos casos de maior repercussão neste ano foi a agressão ao jogador Tinga, do Cruzeiro. Em fevereiro, durante partida válida pela Copa Libertadores da América, na cidade de Huancayo, no Peru, torcedores do Real Garcilaso praticaram atos de racismo contra o jogador.
Sempre que Tinga tocava na bola, a torcida peruana fazia sons imitando macaco. Após o episódio, a Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) abriu investigação e anunciou multa de US$ 12 mil (cerca de R$ 27,8 mil) no time peruano.
Em março, o volante Arouca, do Santos, foi chamado de macaco por torcedores do Mogi Mirim. O atleta classificou como "lamentável e inaceitável" os xingamentos. O Tribunal de Justiça Desportiva de São Paulo (TJDSP) julgou o time por ofensas e aplicou multa de R$ 50 mil. A presidenta Dilma Rousseff lamentou o ocorrido e recebeu os jogadores e representantes do movimento negro.
O árbitro Márcio Chagas também foi vítima de racismo. Após arbitrar a partida entre Esportivo e Veranópolis pelo Campeonato Gaúcho, em 5 de março, Chagas encontrou bananas em seu carro, que também foi danificado por torcedores do Esportivo.
O caso foi parar na Justiça Desportiva e o pleno do TJD do estado decidiu tirar nove pontos do clube, que acabou rebaixado para a divisão de acesso com a decisão do tribunal.
Outro caso com muita repercussão foi o do jogador Daniel Alves. O atleta jogava pelo Barcelona, no dia 27 de abril, quando, antes de chutar um escanteio, foi surpreendido com uma banana atirada no campo por um torcedor, em rodada do Campeonato Espanhol. Em seguida, como resposta , Daniel Alves comeu a banana, num ato que desencadeou diversos apoios ao jogador e de combate ao racismo no mundo todo.
O torcedor que jogou a banana foi identificado no dia seguinte da partida e teve a carteira de sócio do clube suspensa e foi proibido de entrar no estádio novamente.
Melhorias na lei
Existe um projeto de lei no Senado (PL 6418/05) que pretende instituir uma nova lei contra o racismo e outros casos de preconceito mais severa.
A ideia é que tanto a injúria quanto a apologia ao racismo passem a ser enquadradas como discriminação resultante de preconceito de raça, cor, religião, sexo, aparência, condição social, descendência, origem nacional ou étnica, idade ou condição de pessoa com deficiência.
A lei hoje determina que a punição prevista é a pena de reclusão de um a três anos mais multa para quem praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.
Fonte: CUT Nacional