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Dilma diz que Temer é o novo chefe do GSV – Governo dos Sem Voto

Antes de deixar o Planalto, a presidente ironizou o vice e disse que vai lutar com os brasileiros para cumprir seu mandato até 31 de dezembro de 2018

Publicado: 12 Maio, 2016 - 17h37

Escrito por: Confetam

Roberto Stuckert Filho
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No final da manhã de hoje (12), antes de deixar o Palácio do Planalto em direção ao Palácio da Alvorada, residência oficial da presidente da República, Dilma Rousseff declarou à imprensa que o que está em jogo no processo de impeachment não é apenas a manutenção do mandato dela, legitimado por mais de 54 milhões de votos. "O que está em jogo é o futuro do Brasil", afirmou a jornalistas, apoiadores e manifestantes que a esperavam para prestar solidariedade.

Ela denunciou estar sendo vítima de um impeachment fraudulento. “Um verdadeiro golpe”, definiu. Ela relembrou que, desde sua reeleição, tem sofrido retaliações da oposição, derrotada nas urnas. “Eles pediram a recontagem dos votos, tentaram anular as eleições, passaram a conspirar abertamente, impedindo a recuperação da economia para tomar à força o que não conquistaram nas urnas”.

Dilma queixou-se de sabotagem com o objetivo de impedi-la de governar e forjar um ambiente propício ao golpe. “Quando uma presidente é afastada por um crime que não cometeu o nome que se dá a isso não é impeachment. É golpe!”, enfatizou. A presidente disse não ter contas no exterior, nunca ter recebido propina e jamais ter compactuado com processos injustos, reafirmando não existirem motivos para o impeachment.

Brutalidade e injustiça

“A maior das brutalidades que podem ser cometidas contra qualquer ser humano é puni-lo por um crime que não cometeu. Não existe injustiça mais devastadora do que condenar um inocente”, lamentou. Segundo a presidente, o Congresso Nacional está protagonizando uma farsa jurídica pelo fato dela não ter aceitado a chantagem do ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, de interceder pela manutenção do mandato dele após denúncias de corrupção.

‘Posso ter cometido erros, mas não cometi crimes. Estou sendo julgado por ter feito tudo o que a lei me permitia fazer. Foram atos legais, corretos e necessários de um governo. Atos idênticos, realizados por presidentes que me antecederam, não eram crime na época e também não são agora”, comparou.

Transformaram um ato corriqueiro em crime

Dilma disse que os decretos de créditos suplementares, uma das acusações contra ela, seguiram autorizações previstas em lei. “Tratam como crime um ato corriqueiro de gestão. Quanto ao Plano Safra, nada determinei a respeito porque não existe a minha participação nesse plano. Nada restou para ser pago, nem dívida. Numa democracia, nenhum mandato legítimo pode ser interrompidos por atos legítimos de gestão orçamentária”, reclamou.

Para ela, o golpe parlamentar travestido de impeachment visa a sua destituição da Presidência da República do Brasil e a interrupção do projeto de governo aprovado nas urnas. “Ao me destituir, eles querem, na verdade, impedir a execução do programa escolhido pelos votos majoritários dos brasileiros”.

Governo dos Sem Voto

De acordo com a presidente, o golpe ameaça levar de roldão a democracia, as conquistas populares das últimas décadas e instituir um novo tipo de governo no Brasil: o Governo dos Sem Voto (GSV). “O maior risco (da oposição) é assumir o governo dos ‘sem voto’, um governo não eleito e que não terá legitimidade para propor e implantar soluções para os desafios do Brasil. Um governo que nasce de um golpe, que nasce de uma eleição indireta, será ele próprio a grande razão para a continuidade da crise no país”, previu.

Dilma disse ter orgulho de ser a primeira mulher eleita presidente do Brasil e que vai lutar com todas as forças para ser reintegrada à Presidência. “Nesses anos, exerci meu mandato de forma digna e honesta, honrado os votos que obtive e, em nome deles, vou lutar com todos os instrumentos legais de que disponho para cumprir meu mandato até o dia 31 de dezembro de 2018”.

Ela assinalou que o destino lhe reservou grandes desafios, alguns até lhe pareceram intransponíveis, como a tortura no passado e a injustiça no presente. “Eu já sofri a dor indizível da tortura, enfrentei a doença (câncer) e agora enfrento igualmente a dor inominável da injustiça. O que mais me dói é saber que estou sendo vitima de uma farsa jurídica e política”.

Lutar contra o segundo golpe

A presidente confessou jamais ter concebido a ideia de ter de lutar novamente para defender a democracia no Brasil, após o fim da ditadura militar. “Olho para mim e vejo a face de alguém que tem forças para defender a si e a democracia. Já vivi muitas derrotas e grandes vitórias, mas confesso que nunca imaginei que seria necessário lutar de novo contra um golpe no meu país. Nossa democracia não merece isso”.

Por fim, Dilma disse estar confiante de que os brasileiros lutarão com ela para restabelecer um mandato usurpado pelo golpe. “Tenho certeza de que a população saberá dizer não ao golpe. Aos que se opõem ao golpe, faço um chamado: mantenham-se mobilizados, unidos e em paz. A luta pela democracia não tem data para terminar, é permanente. A luta contra o golpe é longa e pode ser vencida. E nós vamos vencer. Essa vitória depende de todos nós. Vamos mostrar ao mundo que há milhões de defensores da democracia no nosso país. Nosso povo sabe que a história é feita de luta e que a democracia é o lado certo da história. Jamais vamos desistir de lutar”, concluiu a presidente.