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Debate coloca que o enfrentamento da violência contra a mulher deve ser também ideológico

A Federação dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal do Estado do Ceará (Fetamce) realizou na manhã de hoje (13/11) o Seminário Estadual de Combate à Violência Contra a Mulher.

Publicado: 18 Novembro, 2014 - 00h00

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O local escolhido para a atividade, a região do Cariri, é a parcela do estado onde mais ocorrem crimes e atos violentos contra as mulheres.
A atividade deu a largada na agenda de atividades da campanha “Serviço Público de Todas as Cores”, que tem o objetivo de desenvolver, juntos aos servidores e gestores municipais, a discussão sobre a homofobia, o racismo e a violência contra a mulher, ao mesmo tempo em que combatemos estas formas de violência.
Entre os convidados do encontro, o professor do Departamento de Enfermagem da URCA, Glauberto da Silva Quirino, apresentou o perfil da violência contra a mulher no Cariri, que chegou à conclusão que os números de denuncias de violência contra a mulher tem aumentado consideravelmente, desde 2006, com a criação da Lei Maria da Penha, que pune este tipo de crime. Porém, para o professor, o ponto fundamental a ser considerado é que a Lei vem para punir, mas o enfrentamento da violência deve ser também ideológico.
Glauberto trouxe a informação de que o Código Penal brasileiro, até bem pouco tempo, anistiava o agressor da mulher. Como exemplo, ele citou o caso da socialite Ângela Diniz, que foi morta pelo marido, Doca Street, em 1976, sendo o mesmo absolvido do crime, pois a justiça interpretou que ele havia cometido o crime para “lavar a sua honra”. Segundo o pesquisador, a situação mostra que até a legislação nacional legitimava as referencias culturais de inferioridade da mulher frente o homem, da esposa como propriedade do marido.
“Quem não se comportar a partir dos referenciais hegemônicos inscritos ideologicamente na sociedade será vítima da violência”, disse Glauberto. Para ele, a sociedade entende como padrões a serem seguidos os referenciais branco, cristão, masculino, heterossexual e de classe média, o que classificou como “posição de centro”. Sendo assim, a partir deste conceito, quem está fora destas características, será marginalizado. “Os valores hegemônicos justificam a cultura do machismo, da violência de gênero, da homofobia e do racismo”, complementou.
Tais características só podem ser modificadas a partir de muito debate e estímulo à discussão, conforme o estudioso, pois a construção do ódio às mulheres, aos gays e aos negros é reforçada no cotidiano, na escola e na família. “Ao longo da vida, as mulheres são ensinadas a serem inferiores e os homens estimulados a serem livres, desde a infância. Muitos homens e mulheres seguem este modelo imposto e culturalmente construído, esquecendo as suas subjetividades, muitas vezes”, explicou.
Debate
O debate contou ainda com a presença da titular da delegacia da mulher do Crato, Camila Brito; da representante do movimento Cidadania Feminina, de Pernambuco, Rejane Pereira; além de integrantes dos Conselhos das Mulheres de Crato, Barabalha, Juazeiro do Norte, Varzea Alegre, Brejo Santo e Altaneira.
“Como pudemos perceber, para enfrentarmos a violência contra a mulher, assim como a homofobia e o racismo, precisamos não só investir em mecanismo de proteção e punição dos agredidos, mas também lutar para fazer uma grande discussão de valores, através de uma série de políticas públicas que estimulem as mudanças sociais, enfrentando o machismo e seus atributos culturais. Este é um dos objetivos de nossa campanha, inclusive”, enfatizou Enedina Soares, presidenta da Fetamce.
Marcaram presença ainda diretores sindicais e servidores das cidades que compõem a Região do Cariri.