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Confetam repudia artigo do economista Claudio de Moura Castro

Publicado na revista Veja, o texto tenta construir discurso para legitimar o maior ataque aos direitos dos trabalhadores já visto na história no Brasil

Publicado: 03 Agosto, 2016 - 09h27

Escrito por: Confetam

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Claudio de Moura Castro

Economista conservador, adepto do liberalismo e "especialista" em Educação, o colunista Cláudio de Moura Castro revelou sua mais profunda ignorância na área em artigo publicado, no dia 27 de julho, no maior panfleto da direta brasileira - a Revista Veja. Intitulado "Professor Ganha Mal?", o texto tenta vender a ideia de que não há relação entre o salário do professor e o que aprendem os alunos. Ou seja, professores não precisam ganhar bem para ser bons profissionais.

Para tentar provar a hipótese levantada, ele cita casos de Estados onde a remuneração do magistério é maior e o aprendizado dos alunos menor. E vice-versa. Para o economista, a remuneração não atrai as melhores cabeças para ensinar em escolas públicas, o que significaria, em sua míope visão, que o setor é dominado por profissionais incompetentes, estando na iniciativa privada os melhores professores.

No entanto, Claudio de Moura Castro entra em contradição ao afirmar que os salários, se levada em consideração a remuneração por hora/aula, "são até competitivos". Ignoraria o "especialista" em Educação que em vários municípios brasileiros a Lei do Piso Nacional do Magistério, que estabelece um valor mínimo de remuneração para os professores, é solenemente descumprida? Não saberia o economista que a maioria esmagadora destes profissionais trabalha os três expedientes - manhã, tarde e noite -, para, ao fim do mês, alcançar uma remuneração minimamente digna para o sustento de suas famílias?

No auge da má-fé, o articulista de Veja chega a tratar direitos consolidados pela luta dos trabalhadores, como a aposentadoria especial aos 25 anos de trabalho, como privilégio de uma categoria que se aposenta aos "50 anos ou menos". Apropria-se do argumento do crescimento da expectativa de vida para fazer crer que estes professores passariam mais tempo aposentados do que propriamente ensinando. 

Como se não bastasse, defende que, "ao contrário da maioria dos países", mesmo aposentados, os professores continuam ganhando igual valor do salário da ativa. Ou seja, um artigo publicado por Veja consegue a proeza de transformar, perante a opinião pública, simples professores em verdadeiros "marajás" da Educação.

Mas esse duro ataque à profissão não é fruto exclusivo da ignorância. Por trás dele está o claro interesse das elites e dos grandes meios de comunicação de construir um discurso capaz de legitimar uma série de projetos que tramitam no Congresso Nacional com o objetivo de desconstruir os direitos trabalhistas da categoria e da classe trabalhadora como um todo. Veja nada mais faz do que reverberar a ideia das classes dominantes de que a flexibilização de direitos trabalhistas e sociais são a saída para o Brasil. A guerra, portanto, é ideológica!

Um exemplo claro é a tentativa de legitimar a Reforma da Previdência. "A conta dos aposentados já é maior que a conta dos ativos em alguns estados", reclama o articulista, concluindo em seguida: "aumentando a idade da aposentadoria e fazendo o seu valor mais modesto, dobraríamos os salários". Neste trecho, revela-se a real intenção de Cláudio de Moura Castro de defender, no mesmo pacote, o fim da aposentadoria especial, o aumento da idade mínima para aposentadoria e a redução dos valores dos benefícios.

Chama ainda mais a atenção a desfaçatez com que o articulista tenta vender ao leitor de Veja que a Reforma da Previdência vai trazer justiça social, possibilitando, inclusive, o aumento salarial dos professores da ativa. "Os professores estão sob regras aparentemente generosas, mas no fundo perversas", afirma.

Na ânsia de provar sua tese, o economista faz cálculos mirabolantes para, ao final, concluir que - descontados os períodos de observância a direitos como férias, licença prêmio, recessos natalinos e faltas para tratamento de saúde -, os professores brasileiros somam apenas 19 anos de trabalho, seis a menos se comparado ao que ele chama de um "empreguinho CLT". 

Mais mirabolante ainda são os cálculos aleatórios feitos pelo economista para professores que tiraram licença para mestrado, doutorado, maternidade (duas vezes) e para disputar uma vaga de vereador (quatro vezes). "Quem usar todas as dispensas legais deixará de ensinar por 13,5 anos. Esse seleto grupo trabalha 11,5 anos na sala de aula e recebe durante 38,5 anos", concluiu.    

Ao tratar direitos trabalhistas como "privilégios", Claudio de Moura Castro tenta criminalizar o exercício de uma das profissões mais importantes entre as categorias de trabalhadores, um absurdo que só se justifica quando se entende o seu verdadeiro objetivo: tratar o professor como um criminoso que tira dinheiro do Estado, e por consequência da população, para o pagamento de um serviço supostamente não prestado à sociedade ou prestado sem qualidade alguma.  

Por isso, o artigo não surpreende quem conhece a linha editorial de Veja. O texto, como tantos outros publicados na revista, serve tão somente para atender a lógica das mesmas elites interessadas em fazer crer que diplomas de qualificação conquistados pelo esforço dos professores não melhoram o rendimento dos alunos, e que a "estabilidade" do magistério, confundida propositalmente com "impunidade", produz profissionais "péssimos", "burocratas" e "faltosos". Sem falar nas greves que, segundo ele, não logram êxito, e dos sindicatos que, na opinião do economista, não atendem as demandas dos trabalhadores.

Diante de tantos absurdos, a Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal (Confetam/CUT) não só repudia o artigo de Cláudio de Moura Castro como denuncia os verdadeiros interesses que estão por trás do texto. Entendemos que a pena e os cálculos do economista, articulista da Veja há pelos menos duas décadas, estão claramente a serviço dos interesses daqueles que ocupam o topo da pirâmide social, os mesmos que foram capazes de engendrar um golpe de Estado, em plena democracia, para depor uma presidente democraticamente eleita pelo povo brasileiro com o claro propósito de reverberar um discurso capaz de legitimar socialmente o maior ataque aos direitos da classe trabalhadora já visto na história do Brasil.

Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal - Confetam

Fortaleza, 02 de agosto de 2016.